Espanha x Maconha = A Espanha que faz a cabeça
Fonte: Carta de Barcelona - Globo.com"Diz a lenda que, na Espanha, cada pessoa adulta pode ter em casa, sem perigo de ser presa,

É apenas uma lenda, mas amplamente apoiada na realidade. A legislação espanhola não considera crime o uso da maconha, seja para fins lúdicos ou medicinais, enquadrando como tal apenas o tráfico da droga e seu

A omissão da lei sobre o cultivo doméstico para consumo pessoal é interpretada como permissão por centenas de milhares de espanhóis que ostentam as mais viçosas folhagens em suas varandas. E os tribunais vem confirmando esta leitura.
Multiplicam-se as publicações sobre a planta, seus derivados, utensílios e formas de cultivo; as lojas que vendem desde produtos de cânhamo a uma infinidade de apetrechos para o consumo; as associações de usuários e o cultivo comunitário.
A naturalidade com que o espanhol convive com a “marihuana” é sinal do amadurecimento do debate sobre o tema, que vai muito além da liberação do uso da droga em “coffee shops” como os holandeses.
Um dos principais eixos de discussão, amparado em pesquisas científicas de instituições de renome, é o uso medicinal da planta e/ou de seu extrato, já regulamentado em países como Alemanha, Noruega, Reino Unido, Áustria e Itália.
Lembro que há medicamentos produzidos em laboratório com o princípio ativo da “cannabis” (o THC) cujo uso é autorizado na Comunidade Européia por tratados farmacológicos internacionais. São específicos para sintomas relacionados à AIDS e à quimioterapia de combate ao câncer.
Mas é bem maior a lista de doenças que poderiam ser tratadas com o uso da maconha, a depender da continuidade das pesquisas e da liberação do uso: náuseas, vômitos, anorexia, esclerose múltipla, epilepsia, depressão, dores, glaucoma e até asma.
A regulamentação deste e de outros usos da “marihuana” é a principal bandeira do chamado “Partido da Cannabis”, a Representação Cannábica de Navarra (RCN), sediada em Pamplona, norte da Espanha.
A RCN inaugurou esta semana a primeira sede européia dedicada à experimentação dos usos lúdico e medicinal da maconha.
O programa do partido é no mínimo instigante. Defende, por exemplo, a regionalização do cultivo da maconha – com certificação de origem controlada! - para combater o tráfico, aumentar a arrecadação de impostos e gerar empregos.
Propõe o uso industrial da planta nos mais diversos setores; o ensino nas escolas sobre prevenção ao uso de drogas; a descriminalização do uso de qualquer substância por pessoas adultas.
Tudo sob o controle de uma espécie de agência reguladora da maconha – o Conselho Regulador e Controlador da Cannabis.
O que chama a atenção é a quase total ausência de tabu do espanhol comum para lidar com o assunto.
Talvez a História já os tenha libertado de algumas camadas de hipocrisia, afinal o ser humano convive com a “cannabis” desde o terceiro milênio antes de Cristo, e só nos últimos dois séculos é que isso passou a ser considerado crime.
E não há nada mais pragmático quando se quer enfrentar um problema que encará-lo como ele realmente é, sem as lentes distorcidas do preconceito.
Exemplo que tem sido seguido pelos norteamericanos. Esta semana, o estado de Nova Jersey foi o décimo-quarto a aprovar legislação sobre o uso médico da “marihuana”, e a Suprema Corte da Califórnia eliminou, por unanimidade, os limites para cultivo e porte de “cannabis” para os mesmos fins.
Antes que me atirem pedras, recomendo aos interessados uma visita ao site http://www.cannabis-med.org . Porque, mesmo atrasado, o Brasil não poderá fingir que esse debate não está acontecendo. E é melhor estarmos bem informados."
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